Sob muitos aspectos, o ofício da pesquisa, da escrita e do design podem ser comparados ao toque de Midas, que transformava tudo o que encostava em ouro. Porém, assim como este personagem da mitologia distorceu a noção de riqueza e acabou quase perdendo o que tinha de mais importante, os ourives das interfaces digitais costumam contribuir, sem nenhuma reflexão crítica, com a inversão dos valores humanos. Se o Midas original teve a chance de se render, nós também temos. Para isso, basta entendermos corretamente a nossa história e o que está em jogo no mundo atual.

Em um cenário bem mais próximo de uma distopia fragmentária do que de uma utopia unificadora, o objeto deste ensaio é invocar uma brevíssima caracterização de três dos cinco maiores — em extensão territorial — estados-nação da atualidade, para mostrar como o fato de chegar atrasado na festa da globalização pode guardar no fundo, a intenção de ser o último a ir embora, além de — supostamente — implicar o desejo latente de mudar o rumo de conclusão dos seus eventos. Bem-vindos à baderna manifesta do jogo de cartas da turma do fundão, protagonizados pela China, Rússia e Brasil.

NFT foi escolhida como a “palavra do ano” pelo Dicionário Collins. Enquanto muitos ainda tentam entender o seu significado ou mesmo nunca haviam ouvido falar neste conceito, ele já movimentou quantias exorbitantes no mercado de arte digital e de criptomoedas: projetos como o Bored Ape Yatch Club ou mesmo o CryptoPunk estão entre as iniciativas de maior sucesso dentro deste universo, e representam apostas indo em direções opostas quando falamos de possibilidades da tecnologia e de modelos de negócio.

Júpiter e Saturno se alinham a cada duas décadas. Seria a mitologia capaz de oferecer um arsenal consistente para a construção de significado deste evento celebrado de maneira igualmente vibrante tanto por astrônomos quanto por astrólogos, tanto por cientistas quanto por teólogos, tanto por historiadores quanto por futuristas?

O ano é o de 2021. O mundo acaba de sobreviver a uma pandemia global que abalou profundamente os valores humanos constituídos nos últimos milênios. Um consenso global decide evocar a alma de Sócrates e de outras figuras iluminadas em uma Ágora — o espaço público símbolo do auge da cultura e política da Grécia antiga — projetada em meio a uma floresta virgem localizada na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Explorada desde as tradições budistas do Tibete e imprescindível ao processo de autoconhecimento desde a era de Sócrates, a virtude de escutar, observar e intuir atingiu o seu auge na figura do Homo sapiens renascentista. Os Leonardos e Michelangelos que, muito antes de artistas, eram cientistas, engenheiros e anatomistas, hoje se tornaram modelos de competência para projetos de transdisciplinaridade.

É possível utilizarmos o branding como um conjunto de técnicas para gerar relevância junto de “marcas culturais”, que se apoiam em uma multiplicidade de pequenos movimentos para criar uma síntese de diversidade? Bem-vindo às cidades “hackeáveis”, às Zonas Temporárias Autônomas e às subculturas.

A poesia concreta, surgida simultaneamente no Brasil e na Suíça durante os anos 50, levou praticamente ao limite a exploração da morfologia, repetição e ritmo das palavras, sendo uma das manifestações mais eficientes e genuínas no sentido de libertar o pensamento das amarras da representação e criar um domínio independente para a linguagem.

Para além de uma analogia com o conceito alemão de Indústria 4.0, a iniciativa liderada pelo cientista Carlos Nobre visa integrar tecnologia, biologia e conhecimentos ancestrais em torno de uma visão sistêmica da maior floresta tropical do mundo: a Amazônia possui uma incontável biodiversidade, uma preciosa reserva de minério, além de ser a maior “sequestradora” de carbono do nosso planeta.

Que forma você enxerga na imagem acima? Muitos de nós já pensaram por algum instante ter encontrado uma forma única na silhueta de uma rocha, em uma mancha da parede, na borra de nosso café matinal, ou mesmo em uma nuvem passageira. Pois esta é a ilustração de um capítulo riquíssimo da história da psicologia, fenomenologia e semiótica, assinada pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach, inventor do teste homônimo que o popularizou.

Apesar de ser amplamente reconhecido pelo uso de métodos experimentais e heterodoxos, ainda é pouquíssima divulgada a estreita ligação que o criador da psicanálise tinha com a arqueologia. Na verdade, ligação é um termo modesto para se referir a alguém que possuía uma coleção com mais de 2.000 artigos - praticamente todos originais - de antiguidades do Egito, Grécia, Roma e China.

No final do ano passado, após um século de vida, faleceu Armin Hofmann, um dos responsáveis pelo famoso Swiss Style criado pela Escola de Design da Basileia, onde começou a lecionar aos 27 anos. Seus princípios de tipografia, que revolucionaram as artes gráficas e elevaram a reputação do País a níveis mundiais, são referência para os profissionais e ensinados na escola até hoje.